Superávit histórico em Goiânia: austeridade fiscal ou maquiagem contábil?

by g360noticias

O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), apresentou à Câmara Municipal, na última quinta-feira (29), os resultados financeiros do primeiro quadrimestre de 2025. O destaque foi um superávit primário de R$ 705,5 milhões, considerado o maior da história da capital goiana. Contudo, a apresentação gerou controvérsias, especialmente devido à manutenção do decreto de calamidade financeira, mesmo diante dos números positivos.

Superávit recorde

Segundo dados da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), as receitas correntes aumentaram 14,47% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando R$ 3,3 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelo Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que arrecadou R$ 661,8 milhões (alta de 6,81%), e pelo Imposto Sobre Serviços (ISS), com R$ 483,2 milhões (crescimento de 7,08%).

Por outro lado, as despesas totais liquidadas caíram 7,47% em termos nominais e 12,32% em valores reais, somando R$ 2,48 bilhões. Desse montante, R$ 326,8 milhões referem-se a restos a pagar herdados da gestão anterior.

Cortes de investimentos

Apesar do superávit, os investimentos em infraestrutura sofreram uma redução significativa. No primeiro quadrimestre de 2025, foram aplicados apenas R$ 35,7 milhões, uma queda de 76% em comparação aos R$ 148,4 milhões investidos no mesmo período de 2024 . Essa retração levanta questionamentos sobre a sustentabilidade dos serviços públicos e o impacto na qualidade de vida da população.

Educação e saúde

Na área da saúde, a Prefeitura aplicou 19,02% da receita, acima do mínimo constitucional de 15%. Entretanto, na educação, o investimento foi de apenas 15,23%, abaixo dos 25% exigidos por lei . O prefeito Mabel justificou que o percentual será cumprido ao longo do ano, mas a defasagem inicial preocupa especialistas e vereadores.

Dívida municipal e calamidade financeira

Durante a audiência, Mabel informou que a dívida consolidada da Prefeitura é de R$ 1,5 bilhão, além de precatórios (R$ 396 milhões) e dívidas previdenciárias (R$ 293 milhões) . Apesar do superávit, o prefeito defendeu a prorrogação do decreto de calamidade financeira, alegando que a dívida total herdada da gestão anterior é de R$ 4 bilhões.

A manutenção do decreto foi criticada por vereadores, que questionaram a necessidade da medida diante dos números positivos. O vereador Coronel Urzêda (PL) indagou sobre a justificativa para a prorrogação, enquanto a vereadora Aava Santiago (PSDB) apontou gastos de R$ 8 milhões com shows da Pecuária, sugerindo prioridades questionáveis na gestão dos recursos públicos.

Críticas e apoio

O vereador Lucas Vergílio (MDB) criticou a queda nas despesas e a paralisação de investimentos, afirmando que o superávit é “insuflado e artificial”. Já a vereadora Kátia (PT) questionou o aditivo de pagamento para a empresa LimpaGyn, enquanto os servidores municipais seguem com a data-base atrasada.

Em contrapartida, vereadores da base aliada, como Bruno Diniz (MDB) e Igor Franco (MDB), parabenizaram o prefeito e destacaram os esforços para equilibrar as contas públicas.

A apresentação das contas do primeiro quadrimestre de 2025 pela gestão de Sandro Mabel revela um cenário de superávit histórico, mas também levanta questionamentos sobre a sustentabilidade das políticas adotadas. A redução drástica nos investimentos e os cortes em áreas essenciais, como educação, indicam a necessidade de um debate mais aprofundado sobre as prioridades da administração municipal e o impacto dessas decisões na população de Goiânia.