A carteira de pedidos dos fabricantes de máquinas e equipamentos de movimentação de materiais e cargas começou 2024 mais recheada de encomendas, elevando as projeções de crescimento para o ano. A perspectiva é que voltem aos níveis dos recordes de vendas de 2020 e 2021, quando no auge da pandemia da covid-19 a explosão de vendas on-line no comércio e na indústria gerou uma corrida por automação, que catapultou as encomendas de equipamentos como empilhadeiras, pórticos, guindastes, pontes e esteiras rolantes, entre outros, para agilizar a logística interna nas empresas.
Ao mesmo tempo, a retomada dos planos de modernização de portos e aeroportos, de expansão de terminais intermodais de cargas e da mineração pelo país também beneficiou os fabricantes de equipamentos de grande porte, sob encomenda, como guindastes e pontes rolantes.
De acordo com Marcos Gaio, vice-presidente da câmara setorial de equipamentos de movimentação de materiais da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as encomendas neste ano estão mais firmes, principalmente com pedidos de equipamentos de movimentação interna, como em centros de distribuição de indústrias, redes de varejo e aeroportos.
“Também as grandes transportadoras e as integradoras de sistemas (as chamadas sistemistas) ampliaram seus pedidos, especialmente depois que a queda nos juros mudou para melhor as perspectivas do cenário econômico no país”, explica Gaio, destacando que as concessionárias de serviços públicos, como as de aeroportos e portos e de outros sistemas viários, estão modernizando o atendimento com mais automação na movimentação de bagagens e cargas. Gaio, que é executivo da espanhola Interroll Logística no Brasil, lembra que o destaque nas encomendas do setor privado fica por conta dos grandes investimentos da indústria e do varejo na multiplicação de seus centros de distribuição por todo o Brasil.
“Entre os maiores projetos privados de movimentação de materiais em andamento neste ano estão os das líderes do e-commerce, como a Mercado Livre”, ressalta Gaio, acrescentando que também as linhas automatizadas na produção da indústria de alimentos, como do exportador de carnes e de armazenagem de grãos, estão firmes na demanda por mais máquinas para intralogística desde o ano passado.
A Interroll, baseada no parque fabril de Barcelona, na Espanha, e com sede na Suíça, tem uma fábrica brasileira em Jaguariúna (SP), onde produz principalmente roletes para esteiras transportadoras e motores para check-outs. A empresa tem visto na multiplicação de pequenos supermercados, especialmente em áreas de comércio popular, um negócio ascendente. A automação no transporte e despacho de mercadorias, puxada pelas vendas virtuais, reforça a receita de médias e pequenas empresas de equipamentos logísticos como a gaúcha Cobra, de Caxias do Sul, que oferta correntes e esteiras rolantes.
A corrida pela automação na movimentação de materiais e mercadorias no Brasil está consolidando também a presença de grandes produtores estrangeiros no país. Um exemplo nos grandes volumes de importação é a chinesa Heli (Anhui Forklift Group Co. Ltd.), sediada em Hefei, empresa parcialmente estatal, especializada em engenharia, fabricação de empilhadeiras e equipamentos de ponta. Listada na bolsa de valores de Xangai, detém 13% de market share global e 33% de market share na China. Segundo a sua presidente no Brasil, Kelly Rech, a Heli já conseguiu, ante sua capacidade de produção na China de 300 mil empilhadeiras elétricas por ano, a liderança nas vendas do segmento de empilhadeiras elétricas a lítio no país. “Neste ano, pretendemos crescer de forma mais expressiva nos equipamentos big trucks, empilhadeiras elétricas de maior porte”, adianta ela.
Atualmente, o estoque da Heli Brasil é de cerca de três mil máquinas em seu centro de distribuição de Itajaí (SC). “Esse é o maior e mais diversificado portfólio de produtos do setor na América Latina, o que nos coloca em uma posição de destaque para atender rapidamente às necessidades dos clientes.” Para este ano, a projeção é de um crescimento orgânico de 10%.
A operação no Brasil da Heli, presente há mais de 13 anos no país por meio do grupo KMR, se estende a uma rede de representantes autorizados em todo o território nacional. “A Heli Brasil é hoje a que tem a maior representatividade em venda de máquinas no mundo, dentro do nosso grupo”, destaca Rech, acrescentando que as metas de sustentabilidade das empresas brasileiras exigem cada vez mais equipamentos de energia limpa e de alto desempenho “como as nossas empilhadeiras movidas a lítio”.
Entre 2021 e 2023, a Heli realizou no Brasil a maior troca de matriz energética de equipamentos já feita em uma empresa no país, para a maior fabricante de bebidas do mundo, com a venda de 500 empilhadeiras. Ela também fornece equipamentos para empresas do agronegócio, indústrias de alimentos e bebidas, farmacêuticas, centros de distribuição, atacadistas e varejistas, além de portos e mineração. No fim de 2023, a Heli Brasil inaugurou seu segundo centro de distribuição em Itajaí, com mais de 6,7 mil m2, somando mais de 17,2 mil m²de área de armazenagem no local e, neste ano, está concluindo um novo centro de distribuição no Uruguai.
A demanda por locação de equipamentos para logística também atrai investimentos. A Simak Rent, que estreou no mercado em 2023, com uma oferta inicial de 1,3 mil máquinas, atua na locação de caminhões e de equipamentos das linhas amarela (movimentação de materiais e construção) e verde (voltada para o agronegócio). Cerca de 60% dos equipamentos são caminhões leves, pesados e extrapesados, que serão destinados a atividades de logística interna das contratantes. Os equipamentos da linha amarela (pás carregadeiras, escavadeiras, entre outros) respondem por 35% dos equipamentos da Simak. Já o segmento de linha verde responde por 5% dos ativos e reúne equipamentos para atividades agroflorestais.
Sua controladora, a Manserv, uma das líderes do mercado brasileiro de serviços de manutenção industrial, de edificações e intralogística decidiu investir R$ 400 milhões para dar início às operações da Simak Rent. A sinergia com a Manserv, com 38 anos de serviços técnicos especializados e desenvolvimento de soluções para empresas de grande porte, com 600 contratos em vigor, motivou a criação da nova empresa.
Em seu primeiro ano de atividade, a Simak obteve receita de R$ 220 milhões. “Começamos a operação com 140 contratos em 65 clientes”, afirma Anderson Antonio de Abreu, CEO da companhia, que prioriza contratos de longo prazo de equipamentos pesados, com inclusão de serviços como manutenção. “Nossa estratégia é focar em projetos estruturados que tragam previsibilidade, estabilidade e menor custo total de operação. Queremos ir além da pura e simples locação de equipamentos”, diz.
Entre os setores que serão atendidos pela nova empresa estão os de mineração, fertilizantes, petroquímico, siderurgia, metalurgia, energia e papel e celulose. A Simak trabalha com foco em tecnologia de ponta, como sistemas de telemetria embarcados nos equipamentos para gerar relatórios gerenciais aos clientes, apontando posição, estado, condições de uso dos equipamentos e medidas preventivas para reduzir acidentes, desgastes, paradas e manutenção. “Vamos usar nosso know-how para gerar valor, ajudando os clientes a gerir as frotas, sua aplicação em campo, e cumprir suas metas de redução de emissões de carbono. Equipamentos operados adequadamente reduzem o consumo de combustível, o que é crítico para as estratégias de ESG”, explica Abreu. Para atender à demanda, a novata Simak está presente em 22 Estados com 140 unidades para responder por 100% da manutenção dos maquinários locados.
Outro foco de grandes investimentos em máquinas e equipamentos de logística interna é o setor farmacêutico, no qual atua a alemã Knapp, com fábrica em São José dos Pinhais (PR). Tanto as grandes redes de farmácias – como Raia Drogasil, Panvel e Ultrafarma, que operam praticamente em todo o território nacional – como a indústria farmacêutica, seus representantes e distribuidores, além das grandes redes hospitalares, têm ampliado as áreas de armazenagem e centros de distribuição, por conta da data de validade dos medicamentos.
Ao mesmo tempo, a multiplicação de silos e armazéns de grãos ao lado de grandes áreas de cultivo de soja, milho e outros cereais tem ampliado a demanda por esteiras rolantes, pórticos e guindastes, principalmente na região Centro-Oeste. A questão climática tem levado grandes agricultores a investir de forma crescente em armazenagem mais eficiente para abrigar suas safras à espera de boas cotações para os grãos.