É hora da próxima geração ascender no império global de catering de 58 anos da família Bellon.
A Sodexo, do clã francês, em meio a uma de suas maiores transformações desde a criação em 1966 pelo falecido Pierre Bellon, nomeou o neto Laszlo Szabo, de 31 anos, para o conselho da empresa Pluxee NV, que surgiu de um “spin-off” e abriu o capital no mês passado. Até agora, ele é o único da nova geração a assumir um papel de supervisão dentro das empresas do clã, fornecendo uma pista sobre como o funcionará a sucessão em direção à terceira geração da família.
“Começamos a treinar os netos como acionistas por meio de visitas locais e no conhecimento da estratégia”, disse Sophie Bellon, 62 anos, CEO da Sodexo, em entrevista. “É importante que eles conheçam a empresa.”
A família Bellon tem uma fortuna de US$ 6,1 bilhões, de acordo com o índice Bloomberg Billionaires. O grupo busca remodelar a organização do império desde a morte de Pierre, aos 92 anos, em 2022, e a nomeação de Sophie como CEO.
Diferentemente de algumas dinastias ultra-ricas, a família francesa evitou até agora expor quaisquer divergências públicas entre os herdeiros. Mas os Bellon chegaram a um ponto crucial em que a geração que atingiu a maioridade precisa assumir papéis mais proeminentes se quiserem que o negócio permaneça sob o controle operacional da família.
Szabo, cofundador de um fornecedor de infraestrutura blockchain, é agora um dos quatro membros da família no conselho de 10 membros da Pluxee, junto com sua mãe, tio e tia.
A maior parte da sua fortuna deriva de uma participação de quase 43% – com 58% de direitos de voto – na Sodexo, listada em Paris. A alta de 7,9% dessas ações desde o início de fevereiro contrasta com a baixa de 9,5% dos papéis da Pluxee, na qual detém uma participação semelhante.
A capitalização de mercado da Sodexo era de 15,4 bilhões de euros (US$ 16,7 bilhões) antes da cisão, e ambas as empresas combinadas valem agora cerca de 400 milhões de euros a mais do que isso.
Os analistas ainda não sabem se a cisão criará valor no longo prazo. Ainda assim, a mudança é um sinal de que Sophie Bellon está deixando sua marca na empresa.
O controle rígido da família sobre a Sodexo e a Pluxee por meio de sua holding Bellon SA foi reforçado por um acordo em 2015 entre o falecido fundador, sua esposa Danielle, de 84 anos, e seus filhos “para evitar que seus descendentes diretos alienem livremente suas ações da Bellon SA por 50 anos.”
“Isso nos permite ter uma estratégia de longo prazo sem que a gestão esteja sob pressão constante”, disse Sophie. “É claro que temos que ser competitivos, mas não há uma mudança estratégica sempre que há um novo chefe.”
A lógica por trás do desmembramento da Sodexo, que o fundador construiu ao longo de décadas por meio de expansão geográfica e de aquisições, foi desbloquear o valor da Pluxee, de acordo com o prospecto. A empresa estima que o mercado global dos seus cartões pré-pagos utilizados para recompensar funcionários vale potencialmente até 1 bilhão de euros. A Pluxee é a segunda maior operadora do mundo, depois da Edenred, que foi desmembrada da rede hoteleira Accor SA em 2010.
A holding da família pretende desempenhar um papel “ativo” na Pluxee, fornecendo a presidência executiva e o diretor financeiro, bem como prestando serviços de consultoria, de acordo com o documento de listagem.
A família tem estado intimamente envolvida nas operações da empresa de catering desde que Pierre Bellon iniciou um negócio na sua terra natal, Marselha, fornecendo refeições aos funcionários de empresas locais. Desde então, expandiu-se para escolas, hospitais e prisões, adquiriu concorrentes e passou para a gestão de prédios e instalações comerciais, além de restaurantes mais sofisticados coma a Lenotre, que oferece ovos de Páscoa de chocolate esculpidos de 11 quilogramas por 950 euros cada.
Três dos quatro filhos de Pierre começaram a trabalhar para a Sodexo em meados da década de 1990. Sophie, a mais velha, chegou ao departamento financeiro depois de trabalhar em Nova York com moda e como executiva de fusões e aquisições do Credit Lyonnais. Sua irmã Nathalie, 60 anos, trabalhava no setor de serviços alimentícios desde antes de ingressar na empresa familiar. O irmão François-Xavier, 58 anos, ocupou diferentes funções na Sodexo antes de se tornar chefe do negócio no Reino Unido e na Irlanda em 2004. Ele renunciou alguns meses depois por motivos de saúde e agora dirige a holding.
“Meu pai nos criou dizendo: ‘Não há como confundir organogramas e árvore genealógica’”, disse Sophie Bellon. “Todos se sentiam livres para fazer o que quisessem.”
No entanto, em 2011, ele convocou uma reunião dos quatro irmãos, dizendo-lhes que queria que alguém o sucedesse como presidente, mas que cabia a eles escolher qual deles seria. Após um longo processo envolvendo um comitê de diretores independentes, Sophie ganhou vantagem, assumindo finalmente o cargo em 2016.
A unidade desejada pelo fundador manteve-se até agora sob a liderança de Sophie. Nathalie dirige a Sodexo Live!, que atende saguões de aeroportos, estádios de futebol e centros de conferências, e foi contratada para abastecer a vila dos atletas nas Olimpíadas de Paris neste verão.
François-Xavier é presidente do conselho de administração da Bellon SA, enquanto Astrid, de 54 anos, deixou o conselho da Sodexo e é consultora da Fundação filantrópica Pierre Bellon da família.
A aparente harmonia contrasta com algumas outras famílias ricas com dinâmicas controversas entre irmãos, como os Murdochs, na qual a série da HBO Succession é vagamente baseada. O clã Dassault, também da França, tem um histórico de tensão entre herdeiros da terceira geração, enquanto John Elkann, chefe da dinastia automobilística italiana Agnelli, está envolvido em uma disputa com sua mãe.
“Eu não assisti”, disse Bellon sobre Succession. “Prefiro séries sobre hospitais e médicos porque estão fora do meu ambiente.”
Com a sua nomeação como diretor da Pluxee, o sobrinho Laszlo Szabo, filho de Nathalie, traz uma formação atípica para o conselho.
Segundo Szabo conta, ele entrou na indústria de criptoativos depois de obter um diploma de gestão hoteleira na Glion, na Suíça, e ouvir sobre bitcoin em uma boate de Tóquio.
Inspirado pelo empreendendorismo da família, ele abriu uma empresa de recrutamento na área de tecnologia em Marselha em 2015 e três anos depois cofundou a Kiln, uma startup que usa blockchain para fazer staking de criptomoedas.
“Meu pai é um empresário e me ensinou que você pode ter notas ruins na escola, mas se criar uma empresa de sucesso, tudo ficará bem”, disse Szabo em entrevista ao PyratzLabs no ano passado. “Tive notas muito ruins, mas está tudo bem.”