Muitas fintechs brasileiras, quando decidem expandir para outro país, acabam escolhendo algum destinos na América Latina, em função das similaridades culturais e pela região ser vista como tendo muitas oportunidades e uma concorrência nem tão acirrada quanto mercados desenvolvidos. Essa não foi a realidade da Aarin, empresa de tecnologia de meios de pagamento, que foi comprada pelo Bradesco em 2022. A startup está se expandindo para o Reino Unido.
Beatriz Neiva, cofundadora da Aarin e que liderou o processo de internacionalização, conta que o Reino Unido foi escolhido por ser um dos berços do open banking, onde essa tecnologia de compartilhamento de dados está mais avançada, apesar de já ter sido superada em alguns fatores pelo Brasil.
“Desde 2022 estudamos a internacionalização. Participamos de diversas premiações lá fora e isso nos fez perceber que tínhamos uma oferta muito interessante. Temos de acabar com esse complexo de vira-lata de achar que o Brasil não pode exportar tecnologia para a Europa”, comenta.
Fundada em Salvador (BA) em 2020, por Ticiana Amorim e Victor Tavares, o nome “Aarin” significa “centro” na língua africana iorubá. Especializada em finanças embutidas, hoje a fintech oferece, via banking as a service (BaaS) produtos transacionais, como Pix, boleto, cartão, etc; serviços correlatos, como “conheça seu cliente” (KYC), conciliação de fluxo, entre outros; e também desenvolve projetos financeiros customizados para grandes empresas, fornecendo todo o “core” bancário.
“Eu costumo dizer que nós somos uma boutique de tecnologia especializada em serviços financeiros. E brinco que a gente gosta de verticalizar gigantes. Quando uma grande empresa quer montar um braço financeiro, hoje ela já ficou pra trás, então não tem mais tempo de criar isso do zero. Ela precisa de um parceiro”, conta Neiva.
Para a expansão, a Aarin contou com o apoio do consulado britânico em São Paulo, que auxiliou na busca de parceiros e clientes, além do entendimento do ambiente regulatório no Reino Unido e tributário. O primeiro cliente é a Primefy, fintech de remessas internacionais fundada pelo brasileiro Pablo Klein no Reino Unido.
Neiva diz que o volume de chamadas de API feitas pela Aarin cresceu 15 vezes em 2022, dez vezes em 2023 e deve seguir em forte expansão este ano. A companhia tem mais de 300 clientes e já atingiu o breakeven operacional. Atualmente tem cerca de 150 funcionários, mas segue expandindo o time, em função da necessidade de desenvolver novos projetos.
Apesar de o Bradesco ser dono de 90%, os fundadores detêm a fatia restante e a fintech manteve sua autonomia. “Hoje o Bradesco é nosso principal cliente, mas temos independência. Isso é essencial para manter nossa cultura, agilidade, e acho que a gente acaba também adicionado inovação ao banco”, diz a executiva.