A queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira sobre o Rio Tocantins, em dezembro do ano passado, reacendeu o debate sobre a segurança das pontes no Brasil. Agora, motoristas e especialistas alertam para riscos iminentes na ponte sobre o Rio das Almas, que liga Rialma a Nova Glória, na BR-153, em Goiás. A estrutura de 360 metros apresenta sinais evidentes de desgaste, gerando apreensão entre os usuários.
A Ecovias do Araguaia, concessionária responsável pela administração do trecho da BR-153 entre Anápolis (GO) e Aliança do Tocantins (TO), é fiscalizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Mesmo assim, motoristas relatam instabilidade, vibração excessiva e rachaduras visíveis na ponte.
“A ponte está avisando”, alerta especialista
O engenheiro civil Rodrigo Carvalho da Mata, doutor em Engenharia de Estruturas pela USP, adverte que a ponte já dá sinais claros de risco. “O deslocamento no meio do vão e a vibração excessiva indicam que algo está errado. Se não forem tomadas medidas urgentes, o colapso pode ser iminente”, afirmou.
Segundo Rodrigo da Mata, a sobrecarga de tráfego é um fator agravante. “Essa ponte foi projetada na década de 1960 para cargas muito inferiores às que transitam atualmente. Hoje, caminhões com mais de 90 toneladas atravessam essa estrutura, sem que haja fiscalização adequada”, criticou.
Medo entre motoristas e impactos econômicos
O temor de um desastre semelhante ao da ponte sobre o Rio Tocantins afeta diretamente caminhoneiros e comerciantes. “Não confio nessa ponte. Faço a travessia sozinho, sem outros caminhões por perto, e até afrouxo o cinto de segurança para facilitar a fuga, caso algo aconteça”, disse o caminhoneiro Fábio Júnior.
Comerciantes locais também temem prejuízos. Dona Silvinha, dona de um restaurante na rodovia, teme pelo futuro do negócio. “Se essa ponte fechar, como aconteceu com a do Rio Tocantins, perdemos nosso sustento. Nossos clientes são motoristas”, lamentou.
Problemas estruturais
O balanço excessivo da estrutura é perceptível a olho nu quando caminhões passam. Rachaduras são visíveis tanto na parte superior quanto na inferior da ponte.
A presença de quebra-molas nas cabeceiras da ponte também chamou atenção. Para o deputado federal José Nelton (UB), essa medida confirma a precariedade da estrutura. “Que ponte precisa de quebra-molas para reduzir impacto? Isso prova que a Ecovias sabe do problema”, afirmou.
Durante a visita, uma balsa da empresa Geoloc Engenharia foi flagrada realizando sondagens no rio. Um trabalhador revelou que os estudos fazem parte de um projeto de duplicação da rodovia, possivelmente incluindo reforços na ponte. A reportagem tentou contato com a empresa, mas não obteve resposta.
Falta de fiscalização e soluções urgentes
Rodrigo da Mata criticou a falta de controle sobre o peso dos caminhões, principal fator de risco. “Sem fiscalização, qualquer reforço estrutural pode ser ineficaz. Caminhões trafegam com cargas muito acima do suportado pela ponte”, alertou.
Como soluções imediatas, o especialista sugere o reforço da estrutura com fibra de carbono e a instalação de cabos de aço externos. “A fibra de carbono é usada em carros de Fórmula 1 e pode aumentar significativamente a resistência. Os cabos de aço funcionariam como um reforço adicional”, explicou.
Ele também destacou a evolução das normas de carga ao longo das décadas. “Nos anos 60, os caminhões transportavam 32 toneladas. Hoje, chegam a 45 toneladas, sem contar os casos de excesso de peso. Em 2017, o governo permitiu cargas de até 94 toneladas em algumas estradas, agravando o problema”, pontuou.
Diante da gravidade da situação, especialistas e motoristas cobram providências urgentes da Ecovias do Araguaia e da ANTT. “A ponte está dando sinais de colapso, e não podemos ignorar. Se nada for feito, podemos testemunhar outra tragédia anunciada”, finalizou Da Mata.