Instituições financeiras estão mais preocupadas, neste ano, com os potenciais efeitos dos riscos climáticos no Sistema Financeiro Nacional (SFN), na comparação com 2023. Essa foi a conclusão de uma pesquisado Banco Central (BC) com 83 organizações e publicada nesta quarta-feira (27) como um boxe do Relatório de Estabilidade Financeira.
De acordo com a pesquisa, o impacto dos eventos climáticos em 2023 nas instituições foi “muito baixo”, mas os riscos físicos devem “ganhar relevância” em horizontes mais longos, quando a avaliação dos respondentes é de que aumentam “o impacto e a probabilidade de ocorrência de eventos climáticos agudos”. A pesquisa também mostrou que as instituições financeiras esperam que a seca seja o evento climático de maior impacto no longo prazo.
Segundo a pesquisa, os riscos climáticos físicos de maior severidade, como seca, inundações e tempestades, ameaçam a estabilidade financeira por meio do aumento da inadimplência da inflação.
O boxe do relatório coloca que esses eventos podem causar danos físicos às propriedades dos agentes, desvalorizam os bens e podem interromper processos produtivos e cadeias de suprimentos. Assim, a produção pode diminuir, os custos aumentarem, os preços se elevarem, pressionando a inflação e a renda, trazendo impactos para a inadimplência.
Há ainda algumas instituições financeiras que não consideram que os riscos climáticos físicos ameacem a estabilidade financeira de maneira relevante porque o SFN é resiliente para suportar as perdas. Além disso, para os respondentes, outro fator seria a uma baixa concentração da carteira de crédito em setores considerados como de alta ou média exposição ao risco climático.
A pesquisa também mostra que os riscos climáticos de transição, como os trazidos pelos custos de adequação da produção e de novos modelos de negócios e requisitos legais, podem ameaçar a estabilidade financeira. A avaliação dos respondentes é de que essa ameaça pode acontecer por meio da inadimplência.
Apesar disso, 42% das instituições financeiras responderam que os riscos climáticos de transição são parte do seu gerenciamento de risco. “A grande maioria limita-se a análises em um horizonte de curto prazo”, diz o documento.
A avaliação demonstrada pela pesquisa é que a transição para a economia de baixo carbono pode gerar mudanças nas preferências de consumo e barreira de mercado por conta das mudanças regulatórias. “Os custos de adaptação a esses novos requisitos oneram as empresas, podendo levá-las à inadimplência. Instituições financeiras com carteiras significativas de empréstimos a empresas que seriam amplamente afetadas por mudanças regulatórias poderiam ter grandes perdas financeiras, ameaçando a estabilidade financeira”, aponta a pesquisa.
Sobre o gerenciamento de riscos e governança, o relatório mostrou que o nível de maturidade das instituições sobre a adoção de ações relacionadas a riscos climáticos aumentou, mas que “há ainda grande heterogeneidade” entre as instituições.
A porcentagem de instituições que definem e calculam indicadores sobre riscos climáticos e definiram metas para reduzir a exposição aos riscos subiu de 11% para 30% entre 2023 e 2024. No entanto, a fração de instituições que têm essas metodologias em análise caiu de 9% para 7% no mesmo período.
“O movimento de aumento do nível de maturidade médio entre 2023 e 2024 pode indicar uma adequação pelas instituições financeiras à regulação mais recente sobre o tema de riscos climáticos”, diz o documento.