O dólar comercial operou boa parte da sessão de hoje perto da linha d’água, em um dia sem orientadores aqui e no exterior. Apesar de ter encerrado em leve queda, perto da estabilidade por aqui, no exterior a moeda americana exibiu valorização frente à maioria das divisas mais líquidas. Na sessão, as divisas da América Latina apresentaram desempenho superior aos pares de outras regiões.
Terminadas as negociações, o dólar comercial fechou em queda de 0,07%, cotado a R$ 4,9787, depois de ter tocado a mínima de R$ 4,9720 e encostado na máxima de R$ 4,9935. Já o euro comercial recuou 0,08%, a R$ 5,3906. Perto das 17h05, o dólar futuro para abril exibia apreciação de 0,09%, cotado a R$ 4,9810.
A sessão desta quarta-feira foi marcada por uma agenda fraca, sem dados de peso na economia americana que pudessem alterar as precificação sobre o corte de juros do Federal Reserve (Fed). Como lembra o estrategista de moedas do banco ING, Francesco Pesole, alguns fluxos de fim de trimestre podem confundir os operadores de câmbio hoje e nos próximos dias.
Ele afirma que, a não ser que o PCE (deflator do índice de gastos com consumo) de fevereiro surpreenda na sexta-feira, é improvável que nesta semana algum dado altere as expectativas dos investidores sobre corte de juros nos Estados Unidos que possa alterar a rota do dólar globalmente.
“Será mais interessante ouvir o que Christopher Waller, diretor do Federal Reserve, tem a dizer nesta noite (19h horário de Brasília) sobre as perspectivas econômicas”, diz, recordando que há cerca de um mês, Waller fez um discurso que ofereceu uma boa prévia do que o presidente do Fed, Jerome Powell, comunicou mais tarde em depoimento no Congresso e na reunião de março. “Waller é geralmente considerado mais conservador, por isso será interessante ver como ele reage aos últimos dados divulgados.”
Na mesma linha, o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, avalia que os investidores estão em compasso de espera. “O que estamos vendo é um mercado de lado, aguardando qualquer dado que possa dar orientações sobre o Fed. Neste sentido, indicadores de inflação vão ganhando importância maior. Um possível gatilho nesta semana, portanto, deve ser o PCE na sexta”, diz, acrescentando que a falta de um orientador tem mantido a volatilidade dos mercados de moedas bastante baixa. “Em geral os mercados de câmbio estão bem parados, com um ou outro tendo oscilação maior e pontual por questões locais, como no caso do Japão, com decisões recentes de juros, e da China, com o ‘fixing’ (determinação do nível do câmbio pelo BC chinês).”
Apesar de o dólar fechar em leve queda, operadores mencionaram uma possível saída de fluxo do país, com o dólar casado (a diferença entre o dólar futuro e o dólar spot) voltando a ficar positivo, no fim do mês. Ainda na leitura de Garcia, do C6 Bank, a saída de recursos da bolsa brasileira no acumulado do ano pode ser explicada por um conjunto de fatores, aliados às incertezas sobre o Fed.
“Tivemos a questão dos dividendos da Petrobras que provocou reprecificação forte; houve também a Vale sofrendo pela queda dos preços do minério de ferro; a bolsa americana atraiu forte fluxo; e a própria decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que levou o mercado a precificar menos cortes de juros, acabou penalizando a bolsa de alguma maneira”, diz. “Isso faz não só com que o estrangeiro deixe a bolsa como também o investidor local; que vá não só para o exterior, mas busque outros ativos, como a renda fixa.”