“Lutei muito pela autonomia de funcionamento do Banco Central, tivemos que ir ao Congresso, depois ao Supremo Tribunal e foi uma luta muito difícil, mas conseguimos”, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante evento em Nova York. “É prerrogativa do presidente [da República] escolher os administradores e o presidente do BC. Então, não faz sentido eu tentar atuar no processo ou dizer se o candidato A, B, ou C é melhor. O presidente terá a liberdade de fazer isso [escolher o novo chefe da autoridade]. Mas devo dizer que o banco central é altamente técnico. E muito do trabalho é feito pela mudança técnica.”
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O chefe da autoridade brasileira explicou que, quando assumiu, “a agenda da inovação já estava lá, criada pelo Ilan [Goldfajn], que foi meu antecessor e um excelente presidente do Banco Central”. Segundo o dirigente, “a passagem entre Ilan e eu foi muito tranquila, trabalhamos juntos por um mês, um mês e meio”.
”Acho que a melhor coisa que posso fazer agora é fazer o mesmo e, independentemente de quem for escolhido, tentarei fazer uma transação tranquila funcionar. Não vejo muitas mudanças porque acho que o Banco Central é muito técnico e tem um mandato claro”, pontuou.
Para o presidente do BC, a autonomia do Banco Central dá poder a quem ocupa a presidência “para ser independente do governo e espero que isso continue”.
Durante o evento, Campos falou ainda sobre o cenário externo. O presidente do BC classificou como perigosas as propostas que vêm sendo levantadas de usar rendimentos de ativos russos congelados para financiar a Ucrânia. “Acho que o risco moral que pode ser criado, pois isso excede em muito os benefícios de realmente usar isso para servir como ferramenta política”, afirmou.
“As pessoas precisam entender que todo o sistema [financeiro global] se baseia na confiança de que, uma vez que você acumula reserva e investe no exterior, você pode receber seu dinheiro quando precisar. Portanto, não estou sugerindo nada, estou apenas dizendo que, como banqueiro central que tem reservas investidas em diferentes lugares, temo que você possa quebrar esse vínculo de confiança.”
Conforme Campos Neto, “se todo o sistema financeiro se baseia em como você acumula ativos e onde deposita seus ativos, então eu acho que é uma proposta perigosa”.