Galípolo: Mercado de trabalho apertado e atividade aquecida podem levar a um processo de desinflação mais lento | Finanças

by g360noticias
Galípolo: Mercado de trabalho apertado e atividade aquecida podem levar a um processo de desinflação mais lento | Finanças

O mercado de trabalho está relativamente apertado e a inflação de serviços rodando um pouco mais alta, afirmou o diretor de política moentária do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante evento da Necton. “São fatos difíceis de constestar”, acrescentou. No entanto, o processo de desinflação continua a ocorrer, considerou o dirigente.

“A gente reconhece que o mercado de trabalho mais aquecido e atividade econômica maior ainda não estabelecem um vínculo claro a um processo de aqueciemnto de economia, que represente uma reversão da trajetória de desinflação.”

Segundo Galípolo, “o mercado mais apertado de trabalho e atividade mais forte, porém, podem significar um processo de desinflação mais lento”.

Esse cenário não é uma exclusividade do Brasil, reforçou o diretor do BC. “O problema não é só no Brasil, mas acontece em outros lugares, como nos EUA.”

De acordo com Galípolo, “o Copom está enxergando mercado de trabalho apertado, atividade maior, mas falamos várias vezes que não existe evidência clara de relação com um processo de inflação pior”.

Para Galipolo, o BC reconheceu, na ata da última reunião do Copom, que, nos últimos meses, a correlação que poderia ser esperada do cenário de mercado de trabalho mais apertado e atividade mais forte nem sempre está se revelando de maneira mais óbvia.

O diretor fez referência ao fato de que o processo de desinflação tem ocorrido mesmo em um cenário no qual pressões de aumento de preços poderiam se intensificar. “É um processo parecido com que está acontecendo nos EUA. Podemos discutir onde está o hiato [de produção], mas existe um fechamento de hiato com processo de desinflação.”

De acordo com o diretor do BC, “estamos tentando tatear algo que parece novo, um processo de desinflação com mercado de trabalho mais aquecido e atividade econômica maior também”.

Galípolo pontuou que “se, no passado, tivéssemos relacionando uma coisa a outra, estaríamos errados hoje”. O dirigente citou ainda, como um elemento de como está mais difícil enxergar as funções das variáveis no cenário atual, que, “num passado recente, a gente assitiu ao longo do segundo semestre uma abertura bastante intensa dos yields dos Treasurires, de cerca de 120 pontos-base, e, mesmo assim, a gente não viu o câmbio e nossa curva de juros se comportando mal [como ocorreu um ano antes]”.

Ele afirmou não ter visto divergência na última reunião do Copom, como muitos analistas interpretaram a partir da ata. “Não vi divergência, e acho, que se tivesse algum tipo de divergência nessa reunião, não seria nada grave.”

Segundo o dirigente, a discussão sobre retirada do guidance do comunicado “aconteceu de maneira muito produtiva, franca e honesta, apresentaram-se os argumentos e os ‘trade-offs’ de uma escolha e outra e houve uma formação de consenso”.

Galípolo afirmou que “penso mais como uma confissão de humildade [a retirada do guidance] em relação ao que está menos óbvio enxergar com clareza de onde podem vir as fontes para colaborar com um processo de desinflação mais acentuado”. Segundo o diretor do BC, “isso reforça a ideia de ser mais dependente de dados e que, em um ambiente com mais incertezas, é importante ganhar espaço”.

Para Galípolo, “estamos tateando o problema num ambiente em que os instrumentos normais que usamos para projetar a política monetária não estão se comportando de maneira usual”.

A retirada do guidance do comunicado do Copom “teve intenção de ganhar graus de liberdade [na condução da política monetária] em função de um aumento de incerteza, mas que ainda não se materializaram a ponto de mudar nossa trajetória”, afirmou o diretor de política monetária do BC.

“Ao final, o que acabou prevalecendo foi o que seria o melhor ganho entre os risco de tirar cedo demais e tarde demais [a indicação de guidance]”, disse.

Na questão da ancoragem das expectativas sobre a inflação futura, Galípolo afirmou que “das variáveis que o BC tem na mão, hoje, para eventualmente colaborar com a reancoragem das expectativas, é a própria inflação corrente”. Para ele, “se a inflação corrente se comportar bem, o mercado vai ajustando e melhorando as expectativas”.

Aumento do nível de incerteza

O aumento do nível de incertezas tornou mais difícil para o Banco Central enxergar o fim do ciclo de corte de juros, avaliou o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo.

“Com esse nível de incerteza, a taxa terminal está mais difícil de enxergar.”

Durante o evento na Necton, na nesta noite desta quinta, Galípolo enfatizou que qualquer tipo de sinalização por parte do BC poderia trazer mais ruídos.

“De onde consigo enxergar, não me aventuraria a fazer isso [uma sinalização]. Corro o risco de trazer mais volatilidade”, ponderou. “É preciso esperar para ver como as coisas vão se desdobrar.” Conforme o diretor, “nesse ambiente, não queremos criar uma mecanicidade”.

Segundo o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, “o mercado mais apertado de trabalho e atividade mais forte, porém, podem significar um processo de desinflação mais lento”. — Foto: Pedro França/Pedro França/Agência Senado

Fonte: valor.globo.com