Os mercados voltaram a embutir prêmios na curva de juros nesta quarta-feira (27), em um movimento que aprofundou a desconexão entre as taxas futuras locais e o desempenho dos títulos do Tesouro americano (Treasuries).
O alívio na curva de juros americana não teve reflexos no mercado doméstico, que se manteve atento ao desempenho da atividade econômica no Brasil. Assim, os dados mais fortes do Caged de fevereiro mantiveram os participantes do mercado com o sinal de alerta acionado, ao terem em vista a maior atenção dada pelo Banco Central aos efeitos do mercado de trabalho aquecido na inflação.
No fim dos negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de 9,925% no ajuste anterior para 9,915%; a do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,88% para 9,90%; a do contrato para janeiro de 2027 avançou de 10,125% para 10,155% e a do DI para janeiro de 2029 escalou de 10,605% para 10,655%.
Os alertas emitidos pelo Banco Central na ata da decisão do Copom, divulgada ontem, seguiram no radar dos agentes financeiros, o que impediu a curva a termo de anotar alívio semelhante ao observado no mercado americano. O desempenho dos juros locais destoou da dinâmica dos Treasuries, onde a taxa da T-note de dez anos recuou 4,4 pontos-base, para 4,194%, em um dia marcado por uma agenda fraca de indicadores e de eventos no exterior.
“Olhando para o que aconteceu com os juros americanos, era razoável esperar alguma queda nas taxas locais, ainda mais se considerarmos que, após o IPCA-15 de março, nossas taxas estavam negociando no limite superior da banda [de negociação recente]. Não foi o que aconteceu. As taxas locais tiveram apenas um vislumbre de queda em um curto período à tarde e isso não durou muito”, avalia o trader de renda fixa de um grande banco local.
Além de um Caged bem mais forte que o esperado, ele cita uma antecipação, por parte dos agentes, da pressão exercida pelo leilão de títulos prefixados de amanhã. “Os últimos leilões foram imensos e o mercado teve enorme dificuldade em digeri-los. Ouso dizer que a curva local não ficou achatada [flat] após a ata ‘hawkish’ [favorável ao aperto monetário] do Copom por conta desse efeito técnico e, hoje, talvez tenhamos visto um pouco disso”, afirma. Ele espera um leilão mais calmo amanhã e acredita que o Tesouro deve deixar o mercado “respirar um pouco”.
No campo macroeconômico, o mercado de trabalho foi o fator mais importante nesta quarta-feira, após uma criação de empregos em fevereiro bem mais forte que o previsto. “Há um novo ingrediente a acrescentar à equação, que é a abordagem do Banco Central. Agora, os juros locais estão desligados dos mercados globais, e acredito que o mercado esteja ligado apenas às más notícias. E isso significa que já não estamos ‘tradando’ [negociando] o nível ‘terminal’ dos juros ou ‘valuation’, mas, sim, o prêmio de risco, e, por definição, é sempre difícil medir o nível dos prêmios de risco”, observa o profissional da tesouraria de outro banco local.
“E, isso acontece por duas razões: o mercado de trabalho e a economia em geral ainda estão bem, mas o apoio social ao governo continua a cair – e, possivelmente, a um ritmo mais rápido”, observa o profissional. Embora acredite que o mercado de juros pareça atrativo por ter níveis de prêmio bastante elevados e um ambiente técnico melhor, “a dinâmica mudou e não parece boa”, avalia.