O insider trader que trabalhava num supermercado nos fins de semana | Finanças

by g360noticias
O insider trader que trabalhava num supermercado nos fins de semana | Finanças

Quando Mohammed Zina conseguiu um emprego no Goldman Sachs Group Inc., ele também optou por continuar trabalhando nos turnos de fim de semana no supermercado britânico J. Sainsbury Plc.

Foi um trabalho paralelo incomum para alguém do gigante bancário de investimento, mas para Zina foi uma oportunidade de permanecer com os pés no chão. Os promotores o viam de forma diferente – um ambicioso tomador de riscos, que usava informações privilegiadas do banco para negociar ilegalmente.

Nesta quinta-feira (15), a última opinião prevaleceu, quando um júri de Londres considerou o antigo analista de 35 anos do Grupo de Resolução de Conflitos do Goldman culpado de abuso de informação privilegiada e fraude. Ele será sentenciado na sexta-feira. Ele enfrenta uma pena de prisão de até dez anos.

No caso apresentado pela Autoridade de Conduta Financeira (FCA, na sigla em inglês), Zina foi acusado de negociar ilegalmente ações de empresas como ARM Holdings Ltd. e Punch Taverns Plc em 2016 e 2017. Enquanto os promotores baseavam seu caso em empréstimos, negócios e lucros fraudulentos, a defesa de Zina se concentrou em seu caráter e em sua falta de conhecimento de que era um insider.

Testemunhas próximas a Zina pintaram o retrato de um homem com uma reputação imaculada que deixou seus amigos e familiares orgulhosos de sua carreira e comportamento. Um deles citou seus turnos em Sainsbury porque sentia falta de trabalhar ao lado de “pessoas comuns”. Ele nunca saiu do lado da mãe quando ela lutou contra uma doença prolongada, foi informado ao júri.

Estratégia de negociação

Foi também na mesma época que Zina começou a negociar ativos, inspirado pelo megainvestidor Warren Buffett e usando estratégias que aprendeu. Isso lhe deu algo em que se concentrar além do tratamento de sua mãe, disse ele aos investigadores.

“Vou abordar isso como ‘trabalho, casa, mãe, de volta ao trabalho, esgotado, cansado, de volta para casa, mãe”, disse ele em 2017 aos investigadores. “Então eu senti que iria perder o controle e não queria que isso acontecesse.”

Ele negou qualquer irregularidade e disse que não informou o Goldman porque temia restrições e uma vida longe das negociações.

O trabalho de Zina no Grupo de Resolução de Conflitos deu-lhe acesso a informações de todo o Goldman Sachs. Mas ele não sabia que foi classificado como insider ou que estava usando informações privilegiadas, argumentou seu advogado no julgamento.

“Mohammed Zina tentou enganar o mercado para seu próprio ganho pessoal, negociando cinicamente com base em informações privilegiadas”, disse Steve Smart, diretor executivo adjunto de fiscalização e supervisão de mercado da Autoridade de Conduta Financeira.

Zina “traiu a confiança que depositamos nele e o uso indevido das informações dos clientes estava em contradição direta com nossos valores”, disse um porta-voz do Goldman Sachs. “Temos tolerância zero com essa conduta.”

Negociar não foi o primeiro amor de Zina. Quando criança, ele queria ser jogador de críquete, mas quando adolescente não deu certo.

Ele disse que voltou a se concentrar na educação e encontrou um prospecto de opções de carreira em banco de investimento. O primeiro nome que leu foi Goldman Sachs.

“Fiquei intrigado com a empresa. Fiquei intrigado com a indústria”, disse ele aos investigadores.

Bom com números, estudou contabilidade e finanças na Universidade de Durham e depois conseguiu um emprego no Goldman Sachs.

Posteriormente, Zina mudou-se para o Grupo de Resolução de Conflitos, onde recebia regularmente informações confidenciais, inclusive sobre fusões e aquisições. Usando contas em nome de seu irmão e irmã, os promotores disseram que Zina negociou ações em seis empresas usando essas informações.

A FCA também acusou seu irmão, Suhail, ex-advogado do escritório de advocacia britânico Clifford Chance, por ajudá-lo. Suhail foi absolvido no início deste mês.

Em um caso, Zina comprou ações da ARM uma hora depois de receber informações relacionadas ao plano do Softbank Group Corp de comprar a fabricante de chips em 2016. Ele também foi acusado de negócios ilegais na Punch, Alternative Networks Plc, Shawbrook Group Plc e nas empresas norte-americanas HSN Inc. e Snyder’s-Lance Inc.

Ele vendeu quando as ações dispararam após anúncios públicos sobre os negócios, chegando a 37% no caso da Punch, segundo os promotores. Ele lucrou cerca de 140 mil libras (cerca de R$ 877 mil) no total.

Zina financiou alguns dos investimentos com 95 mil libras emprestados do Tesco Bank. Ele foi alvo de três acusações de fraude por obter empréstimo para reformas residenciais e usá-lo para negociações.

“Ele sabia o suficiente sobre o mercado de ações para saber o que é sensível ao preço”, disse o promotor Peter Carter.

Com o objetivo de passar para o lado comercial, Zina estava prestes a se candidatar a um MBA quando foi preso no final de 2017.

“Gostei dos mercados, gostei da forma como eles se moviam”, disse Zina aos investigadores em determinado momento. “Eu só queria ser mais paciente.”

Mohammed Zina sentia falta de trabalhar ao lado de “pessoas comuns”, segundo testemunha próxima ao ex-trader — Foto: Chris Ratcliffe/Bloomberg

Fonte: valor.globo.com