Otimismo com IPCA dura pouco e juros futuros têm alta forte após inflação dos EUA | Finanças

by g360noticias
Otimismo com IPCA dura pouco e juros futuros têm alta forte após inflação dos EUA | Finanças

Ainda que o número de inflação no Brasil tenha vindo abaixo das estimativas de consenso, com uma composição bastante favorável, o sinal de piora no índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA dominou os negócios globais e impôs um viés de forte alta às curvas de juros ao redor do mundo.

No ambiente doméstico, a direção não foi diferente e as taxas encerraram a quarta-feira (10) com alta superior a 15 pontos-base em alguns vértices, nos maiores níveis desde novembro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 passou de 9,935% do ajuste anterior para 10,02%; a do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,99% para 10,175%; a do DI para janeiro de 2027 avançou de 10,305% para 10,51% e a do DI para janeiro de 2029 saltou de 10,855% para 11,055%.

O início do pregão parecia promissor após, às 9h, o IBGE informar que o IPCA do mês de março ficou bem abaixo das estimativas de consenso dos analistas. A alta mensal do índice desacelerou para 0,16%, abaixo da mediana das estimativas coletadas pelo Valor Data, que eram de 0,24%.

A leitura mais fraca do que a esperada, bem como os sinais de arrefecimento nos núcleos, na difusão e nos serviços, fez os juros futuros locais trabalharem em forte queda nos primeiros negócios do dia, quando chegaram a cair mais de 10 pontos-base em vértices intermediários, nas mínimas do dia.

O movimento, porém, teve vida curta. Meia hora mais tarde, o Escritório de Estatísticas Trabalhistas dos EUA (BLS, na sigla em inglês), informou que o CPI de março subiu 0,4% em março ante fevereiro. A expectativa do consenso de economistas consultados pelo The Wall Street Journal era de alta de 0,3%. O núcleo do indicador também avançou 0,4%, contra expectativa de 0,3%.

O dado fez disparar os juros dos Treasuries e varreu as apostas relacionadas ao início do ciclo de cortes em junho. Perto do horário de fechamento local, o rendimento da T-note de 2 anos disparava de 4,753% para 4,979%, enquanto a taxa da T-note de 10 anos oscilava de 4,369% para 4,551%.

Segundo o CME Group, as apostas para um corte de junho, que giravam em torno de 54% antes da divulgação do CPI, colapsaram para a casa dos 20% no fechamento do dia. O início dos cortes, segundo as apostas do mercado, só ocorreria em setembro. Além disso, no auge do estresse diário, agentes chegaram a precificar, majoritariamente, apenas um corte ao longo de 2024.

O gestor de renda fixa da BlueLine Asset Management, Bruno Santos, relata que mantinha posições tomadas [que apostam na alta] em juros americanos nos vértices de 5 e 10 anos, que funcionam como um ‘hedge’ para posições aplicadas (que lucram com a queda dos juros) em outras geografias, como na Europa.

“Todos os mercados estão se movendo de acordo com os Treasuries. Temos claro que há diversos países que estão em um estágio bem diferente de atividade e inflação e que, em algum momento, veremos uma distinção nos movimentos entre esses países e os Estados Unidos. Mas, enquanto isso não acontece e só temos visto surpresas fortes na atividade americana, temos tomado juros americanos como proteção para os dados fortes”, explica.

Devido ao número acima do consenso do CPI americano, no entanto, as apostas na queda dos juros europeus também acabaram sendo reduzidas. A gestora, segundo Bruno, também ampliou posições compradas em dólar contra uma cesta de moedas de países em que o nível de atividade econômica se encontra mais fraco.

No mercado local de juros, a BlueLine já vinha com poucas posições. No entanto, diante de uma precificação de Selic próxima a 10%, a gestora começa a ver oportunidades para apostar na queda das taxas. “Estamos começando a achar atrativa e assimétrica essa parte curta [da curva], que está precificando 10% de Selic terminal. Temos adicionado um pouco de posições aplicadas na parte curta, mas ainda bem devagar pela dinâmica dos juros lá fora”, afirma.

O gestor afirma, ainda, que o IPCA de hoje surpreendeu positivamente, mesmo com o mercado já esperando uma leitura bastante positiva. “Nos próximos dias teremos os dados de PMC e PMS que o consenso de mercado espera um arrefecimento. Se confirmando esse número esperado pelo mercado, parece atrativo ter posições aplicadas na parte mais curta da curva de juros local”, afirma.

— Foto: Gerd Altmann/Pixabay

Fonte: valor.globo.com