A semana que se passou foi agitada em termos de política monetária. Nada menos que 13 bancos centrais anunciaram suas decisões sobre o nível dos juros, com os olhos do mundo especialmente no Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). A maioria – sete BCs – não mexeu nos juros; quarto cortaram suas taxas e dois subiram.
Na quarta-feira (20), o Fed confirmou as expectativas ao manter os juros na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, o maior nível em 22 anos, e a previsão de três cortes de juros este ano.
Na virada deste ano, havia a expectativa de que o BC americano iniciasse seu ciclo de cortes de juros a partir deste mês. Entretanto, dados mais fortes de atividade e emprego, que dificultam o retorno da inflação à meta de 2% ao ano, fizeram as apostas de início das reduções dos chamados Fed Funds migrarem para junho em diante.
A mesma expectativa de cortes a partir do meio do ano ocorre em relação ao Banco Central Europeu (BCE) e ao Banco da Inglaterra (BoE), na sigla em inglês – no último dia 7, o BCE manteve os juros inalterados em níveis recordes pela quinta reunião seguida.
Já o BoE deixou, na quinta-feira (21), sua taxa de juros básica inalterada em 5,25%, em seu nível mais elevado em 16 anos.
O comitê de política monetária do BC britânico afirma que a política monetária precisa permanecer restritiva por mais tempo porque pressões inflacionárias tanto na zona do euro como nos Estados Unidos continuam impactando a economia.
Quem também não mexeu nos juros foi o banco central da Rússia. A autoridade monetária do país deixou sua taxa básica de juros inalterada pela segunda reunião consecutiva, após cinco aumentos destinados a controlar uma taxa de inflação que subiu na segunda metade de 2023, quando mão de obra e outros recursos foram direcionados para sustentar a invasão da Ucrânia.
O BC russo manteve sua taxa básica em 16%, bem acima da mínima de 7,5% registrada em meados de 2023, mas abaixo do pico de 20% que se seguiu imediatamente à invasão da vizinha Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Entre os que mantiveram as taxas de juros no mesmo patamar também está o Banco da Reserva da Austrália (RBA, sigla em inglês), que na terça-feira (19) deixou sua taxa de juros oficial inalterada em 4,35% ao ano.
O RBA disse que ainda não pode descartar a possibilidade de que as taxas de juros precisem ser aumentadas ainda mais, acrescentando que a inflação permanece muito alta e espera-se que permaneça elevada por algum tempo.
Também na semana passada, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central) manteve inalteradas as taxas de referência de empréstimos (LPRs) da economia chinesa nesta quarta-feira em Pequim, conforme esperado pelo mercado.
A LPR de um ano permaneceu estável em 3,45%, enquanto a LPR de cinco anos foi mantida em 3,95%, de acordo com o PBoC. A LPR de cinco anos, que é mais usada nas hipotecas imobiliárias, havia sofrido o maior corte da história no mês passado.
Já o banco central da Indonésia manteve as taxas de juros em 6% ao ano. Autoridade monetária do país disse que planeja começar a flexibilizar a política monetária neste ano se a inflação permanecer contida, o crescimento econômico resiliente e a rupia estável.
Na quinta (21), o banco central da Noruega manteve sua taxa inalterada em 4,50% ao ano. O BC norueguês reiterou a orientação de que os juros deverão permanecer neste nível durante algum tempo, uma vez que o elevado crescimento dos salários e a depreciação da coroa norueguesa do ano passado impedem uma queda rápida da inflação.
Entre os bancos centrais que cortaram os juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil reduziu novamente os juros em 0, 50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, como esperado, mas passou a sinalizar apenas um corte da mesma magnitude, ante projeção de mais reduções nesta proporção. Para tanto, o colegiado citou incertezas nos cenários interno e externo.
O colegiado afirmou que não houve mudança substancial no cenário básico para a inflação brasileira. No entanto, o Banco Central mostrou alguma preocupação ao dizer que “as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”.
Mas quem pegou os mercados de surpresa foi o Banco Nacional Suíço (BNS), que na quinta-feira (21) iniciou o ciclo global de corte de taxas de juros nos mercados desenvolvidos ao reduzir as taxas em 0,25 ponto percentual, para 1,5% ao ano, enquanto as expectativas eram de manutenção dos juros no patamar de 1,75% ao ano.
A decisão do BNS ocorreu depois que ele reduziu sua previsão de inflação. O banco central disse que a inflação está bem abaixo da meta de 1,2% em fevereiro, e previu uma inflação anual de 1,4% em 2024, 1,2% em 2025 e 1,1% em 2026.
Também na quinta-feira (21), o Banco Central do México, conhecido como Banxico, iniciou seu afrouxamento monetário e cortou sua taxa de juros básica em 0,25 ponto percentual, de 11,25% para 11%. É a primeira movimentação dos juros em um ano e o primeiro corte desde fevereiro de 2021.
Em comunicado, o banco afirmou que apesar do corte, os riscos inflacionários que vêm diminuindo continuam com viés altista. A expectativa é que a redução da inflação continue e futuras decisões dependerão de dados econômicos recebidos.
Já o Banco de La República (Banrep, o banco central da Colômbia) anunciou que reduziu a sua taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual (p.p.), a 12,25%. Desta forma, a entidade acelerou o seu ciclo de corte de juros após duas reduções de 0,25 p.p. em dezembro e janeiro.
Em seu comunicado, o Banrep destacou a forte queda da inflação colombiana de 1,5 p.p. nos dois primeiros meses do ano, a uma taxa anual de 7,7%. A autoridade monetária ainda destacou um recuo nas expectativas inflacionárias para os períodos de um ano, de 5,7% a 4,7%, e dois anos, de 3,8% a 3,5%.
Na lista dos que subiram os juros, destaque para a decisão do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês), que, após oito anos, eliminou a última taxa de juros negativa do mundo, encerrando o programa de estímulo monetário mais agressivo da história moderna. Na terça-feira (19), o conselho da autoridade monetária decidiu, por 7 votos a 2, elevar os juros de referência de -0,1% para uma faixa de zero a 0,1%.
O objetivo do BoJ é quer garantir que a economia não volte a uma espiral deflacionária e que tenha uma alta de preços e expectativas de inflação sustentada. Aumentos salariais maiores do que o esperado este mês ajudaram a criar as condições para a primeria alta de juros no Japão em 17 anos.
Enquanto isso, na quinta-feira (21), o comitê de política monetária do banco central da Turquia elevou os juros básicos de 45% para 50% ao ano devido a uma deterioração nas perspectivas de inflação, segundo a autoridade monetária.